Objetivo da campanha é “preencher a lacuna de conhecimento para o melhor cuidado renal”. Profissionais.

Nesta quinta-feira é comemorado o Dia Mundial do Rim. Neste ano, a campanha alusiva à data é focada na conscientização, pontuando a importância da educação na prevenção da Doença Renal Crônica (DRC). Idealizada pela International Society of Nephrology (ISN) a campanha no Brasil é coordenada pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e conta com a parceria de hospitais do país inteiro, incluindo o Hospital Santa Casa de Uruguaiana (HSCU).

A doença renal crônica (DRC) se caracteriza pela lesão irreversível nos rins, mantida por três meses ou mais, afetando uma em cada 10 pessoas no mundo e com taxas crescentes de acometimento na população. Quando diagnosticada de forma precoce, sua progressão pode ser controlada ou retardada, na maior parte dos casos. Porém, em geral, a DRC não provoca sintomas significativos ou específicos nos estágios iniciais, fazendo com que seja fundamental o conhecimento sobre a doença, seus principais fatores de risco (como hipertensão arterial e diabetes mellitus) e exames simples de rastreamento diagnóstico (creatinina sérica e exame de urina).

A DRC pode ser grave, sobretudo quando evolui para estágios avançados, quando são necessários tratamentos como a diálise e o transplante renal. No Brasil, segundo dados da SBN, o número de pacientes com DRC avançada é crescente, sendo que atualmente mais de 140 mil pacientes realizam diálise no país. Em Uruguaiana, há atualmente cerca de 64 pacientes em tratamento na Clínica Renal do HSCU, que oferece o serviço de hemodiálise.

Mesmo com a estimativa de que em 2040 a doença renal crônica possa ser a 5ª maior causa de morte no mundo, existe uma persistente lacuna de conhecimento sobre a doença, que não tem sido preenchida. Esse é o efeito que se pretende com a campanha deste ano, abordando a educação sobre o tema em todos os setores: comunidade, profissionais da saúde e formuladores de políticas em saúde pública.

Além da conscientização e educação sobre a doença, o Dia Mundial do Rim 2022 tem como objetivos: reforçar a importância de incentivar a população geral e os pacientes renais crônicos a adotarem um estilo de vida saudável; conscientizar os pacientes renais e suas famílias, capacitando-os para alcançarem uma melhor qualidade de vida; incentivar e apoiar médicos da atenção primária a melhorarem o conhecimento e condução da DRC em todo o espectro de prevenção da doença; integrar a DRC às outras Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) em programas de serviços abrangentes e integrados, possibilitando a detecção precoce e rastreamento da doença renal crônica em âmbito nacional, além de informar os gestores públicos sobre o impacto da doença nos orçamentos/sistemas de saúde, encorajando a adoção de políticas e alocação de recursos, de forma a garantir a todos os renais crônicos uma adequada qualidade de vida.

Prevenção e diagnóstico precoce

Responsável técnico pela Clínica Renal, o médico nefrologista Estevão Poetini destaca a importância do acompanhamento periódico da saúde. O alerta do médico vai especialmente para quem possui comorbidades, como hipertensão e diabetes. “Hipertensão arterial e diabetes, se não diagnosticadas e tratadas adequadamente, o paciente sofre lesões renais e evolui a estágios da doença que necessitam da substituição da função renal. Ele explica que, de acordo com dados do Ministério da Saúde, isso ocorre com 7% dos brasileiros acometidos pelo diabetes e 25% dos brasileiros que sofrem de hipertensão. Em 50% dos casos, os pacientes têm mais de 60 anos. Estevão também lembra que, assim como outras doenças podem desencadear a doença renal crônica, a DRC também pode interferir em outros aspectos da saúde do paciente. “Exemplo disso é que um paciente com doença renal crônica tem três vezes mais chance de sofrer um infarto do miocárdio ou um acidente vascular cerebral”, diz.

Nesse sentido, Poetini é enfático sobre a importância dos exames periódicos. “Ao menos uma vez por ano é fundamental a realização de exames laboratoriais completos. Outro fator ao qual se deve estar atento é o histórico familiar. Aqueles que têm casos de doença renal crônica na família devem estar ainda mais atentos”, completa.

A enfermeira coordenadora da Clínica Renal do Hospital Santa Casa, Josiara Passos, enfatiza a importância do controle dessas doenças. “Aqueles pacientes que possuem comorbidades, como diabetes e hipertensão arterial, precisam manter um bom controle da doença para minimizar a lesão ao rim que ela pode trazer”, explica. A enfermeira reforça o alerta da necessidade de exames periódicos, que podem ser solicitados pelo profissional atuando no posto de saúde e “em caso de alteração, este paciente deve ser encaminhado ao serviço especializado”.

A nutricionista Adriana Fittipaldi Kleinubing explica que a prevenção da Doença Renal Crônica passa por manter hábitos de vida saudáveis e dá algumas dicas. “Alimentar-se bem, diminuindo o consumo de produtos industrializados e aumentando o consumo de produtos in natura; beber bastante líquidos, principalmente água, de forma que a gente mantenha a urina sempre abundante e clara; e reduzir a adição do sal (e produtos que contém sal) na alimentação são fundamentais”, ressalta.

Os profissionais também ressaltam que a Doença Renal Crônica é lenta, progressiva e silenciosa. “Nos primeiros estágios – que vai do 1 ao 3 e, em alguns casos, até o 4 – que são estágios pré-dialíticos, ela é assintomática. Se não for através dos exames de sangue, o paciente nem saberá que tem um início de lesão renal. Por isso a prevenção e o tratamento precoce dependem desses exames rotineiros”, explica Adriana.

Os sintomas da DRC, especialmente nos estágios iniciais, são bastante inespecíficos, o que dificulta para o paciente no momento da procura por um profissional. Eles podem comecar por uma anemia, cansado, mal-estar geral, emagrecimento inexplicado, e evoluir para náuseas, inapetência e vomito. “Por isso a realização dos exames, para que o profissional possa avaliar adequadamente”, frisa Josiara. Tais sintomas costumam surgir entre os estágios 3 e 4 e, se não tratado, a doença pode evoluir para o estágio 5, quando o paciente não consegue mais sobreviver sem passar pela terapia renal substitutiva, que pode ser tanto a hemodiálise quanto a dialise peritoneal.

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