Com pouco mais de dois meses à frente do Hospital Santa Casa de Uruguaiana, a gestora administrativa Thais Aramburu apresentou um relatório ao Corpo Clínico da instituição, na noite de quarta-feira, 27/3. A reunião ocorreu na administração da Santa Casa, com a participação de 24 médicos. Na manhã anterior, 26/3, Thais apresentou mesmos dados à Câmara de Vereadores.

O relatório apresentado comtempla um ‘Raio-x’ geral da instituição e as medidas adoradas desde o início da atual gestão após o Ministério Público, por meio do promotor Pablo da Silva Alfaro, recomendar a requisição do município diante da ameaça de fechamento da instituição, inclusive com manifestação pública de alguns grupos de médicos.

Folha de pagamento

Ao assumir a Santa Casa, a atual gestão encontrou 247 leitos em funcionamento, uma folha de pagamentos com 697 funcionários – entre eles 29 médicos atuando em regime celetista – e um déficit mensal médio de aproximadamente R$ 1,9 milhão.

A atual administração desonerou a folha, reduziu o número de médicos em regime CLT para 20 e, dos 618 funcionários mantidos, 80 estão em laudo. As mudanças resultaram numa economia mensal de mais de R$ 125 mil. No mês de fevereiro, a folha de pagamento da Santa Casa fechou em R$ 2.457.378,42. Em breve, a economia deverá aumentar, com o término dos acordos trabalhistas firmados nos casos de demissões.

Serviços

No que tange aos serviços, ao assumir a atual administração encontrou os serviços de oncologia, pronto socorro e centro cirúrgico parcialmente suspensos; dos dez leitos da UTI adulto, sete estavam em funcionamento e dos dez leitos da UTI neonatal, oito estavam em funcionamento; a UTI cardiológica estava com atendimento suspenso, assim como os serviços de neurologia, traumatologia, cardiologia, gastroenterologia, pneumologia, oftalmologia, ginecologia, otorrino e bucomaxilo; a maternidade tinha escala incompleta; e a pediatria estava trabalhando com apenas um médico. Banco de Sangue e Clínica Renal estavam funcionando normalmente.

Já nas primeiras semanas de trabalho, a nova administração conseguiu retomar o atendimento em todos os serviços, com exceção da Cardiologia, onde somente os procedimentos de hemodinâmica foram retomados. A UTI cardio continua fechada e as UTIs Adulto e Neonatal operam com sete e oito leitos respectivamente.

Dívida

Diariamente a administração tem sido surpreendida por novos valores devidos pela Santa Casa. Até o dia 25 de março, quando a planilha apresentada foi fechada, o montante era de R$ 250.864.746,47, sem contar o passivo trabalhista – uma dívida superior à do Município. Desse montante, R$ 8.569.055,18 são referentes a débitos com médicos celetistas, autônomos e pessoa jurídica; R$ 2.753.162,02 é o passivo com funcionários; R$ 161.715,00 são rescisões de funcionários e R$ 177.580,97 são rescisões de médicos. Com a concessionária de energia elétrica, RGE Sul, o débito é de R$ 28.790.815,85 e com a concessionária de água e esgoto, BRK Ambiental, a dívida é de R$ 850 mil.

A Santa Casa tem ainda um total de 469 processos trabalhistas em tramitação. Na 1ª Vara do Trabalho em Uruguaiana possui 244 processos, com valor aproximado de R$ 829 mil. Na 2ª Vara são 225 processos com valor aproximado de R$ 824 mil. Além disso, há cerca de R$ 829 mil em acordos trabalhistas, totalizando R$ 2.777.712,86. Este é o valor de causa, que poderá ser alterado com as sentenças judiciais.

Ações administrativas

Entre outras ações, a atual gestão reduziu de 240 para 147 leitos, desenvolveu o organograma da instituição, realizou ações de integração entre os setores, dinamizando o funcionamento administrativo. Houve a redução dos valores dos contratos e foram elaborados contratos com médicos por três meses (fevereiro, março e abril), além de ter sido pago integralmente o mês de janeiro. Houve readequação do quadro funcional, resultando na redução de 697 funcionários para 618. A recontratualização com o Sistema Único de Saúde (SUS) junto à 10ª Coordenadoria Regional de Saúde foi negociada e readaptada, dentro das possibilidades de trabalho da Santa Casa. Foi cancelado o BG Card, um convenio onde o hospital fazia retenções em folha para repasse. Houve ainda a renegociação com fornecedores, melhorias no Centro de Imagem, com o recebimento de aparelhos de Raio-X, doados à Santa Casa, conserto do estabilizador do tomógrafo e troca de toner da impressora (também utilizando-se de doações). O processo de internação foi aprimorado, houve mudanças no setor de higienização e os serviços do ambulatório foram retomados, sendo que o setor está em restruturação. Foi criado ainda um setor de auditoria, responsável por auxiliar o faturamento de forma que as contas cheguem mais prontas e com isso ocorram menos perdas e glosas. Com a RGE Sul, o Hospital firmou termo de cooperação que resultará na troca de todas as lâmpadas do hospital, passando para led, e instalação de placas de energia fotovoltaica a fim de reduzir o consumo de energia.

Propostas

A apresentação traz ainda as propostas de trabalho. A curto prazo a atual gestão pretende: I) contratar dois médicos radiologistas para retomar o serviço próprio e reduzir custo com empresa de laudo online e compra de serviços em prestadores terceiros; II) ampliação do serviço de diagnóstico por imagem; III) reativar o serviço de diagnóstico por imagem exclusivo do pronto socorro; IV) reativar o Cartão Mais Saúde; V) abrir um ambulatório para atendimento particular e convênios; VI) criação do serviço de reumatologia (primeiramente clínico); VII) troca do piso do pronto socorro (doação da Comunidade Árabe); VIII) reforma do 3º e 4º andar (pacientes SUS ficarão no 3º andar e o 4º andar seja exclusivamente para atendimento particular e convênios); IX) reforma da Clínica Renal e Banco de Sangue (que será realocado para próximo da Renal e a área atual irá compor o serviço de atendimento a particulares e convênios); X) ampliação do serviço de Oncologia; XI) realocação do serviço de endoscopia , atualmente realizado no centro cirúrgico; XII) criação de um pronto socorro para atendimento particular e convênios; XIII) reforma do pronto socorro SUS; XIV) conclusão da reforma da UTI Adulto com revisão do projeto para verificar a possibilidade de aumentar de oito para dez leitos; XV) revisão e conserto de toda a estrutura de telhado do Hospital; XVI) troca da caldeira por um boiler elétrico, adaptando a capacidade para a necessidade do Hospital, gerando energia mais limpa e mais economia; XVII) renegociação com fornecedores.

Além disso, a gestora administrativa e sua equipe já deu início a implantação de um programa de Compliance no Hospital. A medida visa a transparência dos atos de gestão e das contas da administração do hospital em parceria com os órgãos de fiscalização para o eficiente aproveitamento dos recursos públicos despendidos.

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